Toda a sociabilidade brasileira, em todas as dimensões da sociedade, é influenciada pela escravidão, a

instituição mais totalizadora e influente entre nós até hoje. Ora, a escravidão, como sistema social, não existia em Portugal. Podemos falar português, comer bacalhau, sardinha, até torcer pelo Vasco da Gama, mas isso não nos faz portugueses. São, na verdade, os estímulos das instituições que fazem quem nós somos. E se fomos criados sob o impacto onipresente da escravidão, herança nunca verdadeiramente criticada entre nós, então somos senhores, uns poucos, e escravos, a maioria, nos trópicos.

Ou seja, “brasileiros”, desiguais, perversos e racistas.
O que torna tão difícil, para o senso comum das pessoas leigas, a percepção da eficácia das instituições é o fato de elas já estarem “naturalizadas”. Como já nascemos sob sua égide, nos parece tão óbvia, natural e evidente como o fato de o Sol nascer todos os dias.
Como não “refletimos” acerca daquilo que nos parece evidente, compreendemos muito pouco sobre quem somos e como fomos formados dessa maneira peculiar.
Mas basta que reflitamos sobre a instituição familiar, para ver o peso das instituições sobre nós. Herdamos da família, que é sempre peculiar a uma determinada classe social, de modo “inconsciente”, todo o nosso esquema de avaliações sobre o mundo quando internalizamos pai e mãe dentro de nós.

Como amamos os pais, ou quem os represente, tendemos a amar, também, tudo que tem a ver com eles. O hábito de leitura, a forma da sexualidade, os preconceitos, as virtudes e os defeitos. Como tudo isso se dá entre os 0 e 3 anos, época da qual não nos lembramos mais quando adultos, toda essa “incorporação de disposições” para se comportar no mundo, além de julgá-lo e classificá-lo de maneira muito específica, foge de nossa consciência. Esse esquecimento e essa “inconsciência” acontecem, de resto, com todas as instituições.

Apenas a minha análise sobre o tema! Pelo fim da escala 6X1