Tudo isso é na maioria desejo recalcado. A briga dos sexos segue esse procedimento: repressão

de todo desejo idealizante em relação ao sexo oposto. Você, de sexo contrário ao meu (ou complementar, se preferir) não incorpora o que tanto sonhei e o tanto que me foi dito que você deveria ser, logo lhe odeio incondicionalmente. Mas não tão incondicionalmente assim, porque sabemos que na condição da revivescência da minha expectativa, se porventura acender o mínimo de esperança que seja sobre você corresponder ao que desejo no sexo oposto, logo te amarei novamente. A ideia de "não preciso do outro sexo", pode até ser real pra alguns e algumas, mas muitas vezes é uma compensação por se importar até demais e precisar até demais da validação do outro. Ao menos, se é preciso ser anunciado com tanta assiduidade, é no mínimo suspeito. Por que penso tanto e considero tanto nas minhas ações o outro que "desprezo" e "me é indiferente"? Não tem sentido. Objetos que não nos polarizam, que têm efeito neutro sobre nós, não evocam tão fortes reações.
E volta algo que eu já disse antes: todo excesso se inverte na vida psíquica. A baixa autoestima vira soberba, a raiva fora dos limites vira passividade, a parcimônia vira violência, a angústia vira euforia. O ódio ao sexo oposto só pode vir de um grande amor transbordante e frustrado, que vira do avesso e se converte em repulsa por não suportar a própria intensidade. Fim.