Tudo passa primeiro pelo sistema econômico, depois pela organização do governo. Se pegar a primeira
favela do Rio, o morro da favela, no final do século XIX, dá pra entender um pouco, uma série de fatores levou a galera ir morar lá: Soldados voltaram da guerra de Canudos sem receber o pagamento prometido. Ex-escravos não tinham educação nem acesso a trabalho digno. O prefeito Pereira Passos querendo imitar europeu demoliu os cortiços e habitações populares, jogando os mais pobres pra longe dos centros urbanos, criando uma massa que vive na periferia sem condições de pagar por moradia na cidade. Êxodo rural, gente vindo tentar a sorte na cidade. Sobra o que pra toda essa gente? Favela.Também haviam formas do governo limitar essa gente a ficar na favela. Pega por exemplo a lei de vadiagem, quem fosse visto com pandeiro, batuque, cavaco na rua pegava cadeia. Até capoeira e roda de samba já foram criminalizadas. O que sobra? Galera se fechar e isolar nas comunidades, que eram invisíveis pro governo.
Favelas viraram QG do crime organizado justamente pela ausência quase completa do poder público ali. Vamos pegar o surgimento do próprio Comando Vermelho, em plena ditadura militar. Inspirado pelos cartéis bolivianos e colombianos e vendo a enorme fatia do mercado de drogas pra EUA e Europa acenando diante dos seus olhos, o CV foi se fortalecendo num negócio altamente lucrativo, as drogas. Em 85 já tinha 70% de todos os pontos de tráfico, as bocas no RJ. É uma indústria multimilionária. Daí passaram a comprar território, polícia, políticos, juízes. Contrabando, extorsão, dízimo de moradores e negócios, gás e até internet a cabo, tudo na favela pinga no bolso do CV. Vimos o caso do PCC lavando dinheiro nas fintechs da faria lima.
No fim, tudo passa pelo $$$. No fim das contas são negócios, tanto faz se dentro ou fora da lei, a lógica do lucro organiza a estrutura e dinâmica entre facções, polícia, milícia, Estado. E no meio do fogo cruzado os inocentes, o povo.