O que determina se um discurso é mais ou menos facilmente aceito é algo chamado

Janela de Overton.

Em toda sociedade há um discurso hegemônico, um sistema de poder simbólico que determina o que pode ser dito, pensado e ensinado sem punição social. Essa hegemonia é mantida pela classe dominante, que molda a cultura através de universidades, mídia, editoras e instituições culturais, e impõe um vocabulário ideológico disfarçado de consenso moral.

O discurso hegemônico cria um"campo de imunização simbólica": quem pertence ao establishment cultural é automaticamente tratado como portador da verdade, e quem o contesta é tido como ignorante ou extremista. Talvez você consiga se lembrar de alguma notícia ou fact-checkers dizendo coisas como "não é bem assim, o que Fulano quis dizer foi interpretado de forma errada", atribuindo menos relevância ao que realmente foi dito ou feito, e justificando o erro por meio de uma suposta boa intenção. Da mesma forma, também manipulam os significados das palavras, de forma que qualquer discordância é automaticamente enquadrada como "ódio", "fascismo", "obscurantismo", "ignorância", "negacionismo".

Porém, volta e meia a realidade se impõe. Por exemplo, não importou tanto que a mídia tenha tentado representar os traficantes mortos em combate no RJ como vítimas - despindo-os de suas roupas militares para fazer com que parecessem vulneráveis, mostrando a mater dolorosa, isto é, a mãe que chora o sofrimento do filho, como Maria chorou o sofrimento de Jesus na cruz - nada disso importou tanto, pois circulavam na Internet imagens de seus filhos portando fuzis e aterrorizando pessoas. A realidade se impõe e rasga esse véu, a ficção das palavras e os conceitos artificialmente construídos para negá-la, e, assim, de repente, ideias que até então eram inaceitáveis no discurso público passam a ser mais facilmente aceitas.