Aprendi, com muito tempo e sangue, que responder às exigências do mundo não precisa significar
o silenciamento do espírito — nem o meu, nem o de quem caminha comigo. A poesia me toca porque nos ensina a enxergar delicadeza e sentimento até na rigidez de uma pedra. Gosto de me juntar aos gatos para observar as ruas também, eles têm uma maneira fofa de ensinar paciência e plenitude, assim como os idosos quando ficam horas sentados em frente às suas casas.Viver, para mim, mora nas sutilezas: ver os pais ou irmãos felizes, uma mente quieta, repousar em uma cama limpa e cheirosa, sentir o corpo relaxar depois de um dia intenso — ou apenas comum. Há até um encanto engraçado quando o estômago ronca e é saciado: qualquer prato modesto se transforma em banquete…só não deixem um rato cruzar o caminho nessa hora —pode parecer tentador. Risinhos.
A brisa do verão na pele, o inverno que fica do lado de fora porque há abrigo, o sorriso de quem amamos, o toque que acolhe, ou mesmo a doçura de um dia inteiro em companhia de nós mesmas, fazendo o que nos convém… tudo isso compõe o que eu entendo por viver.
Enquanto eu puder reconhecer essas pequenas grandezas, saberei que estou vivendo. E se estou vivendo, ainda que de forma simplória, seguirei buscando viver ainda melhor com aquilo que tenho.
