Tive muitas dúvidas na adolescência e no início da minha vida adulta, porque, embora minha
mãe seja católica, ela não teve instrução ou formação intelectual. Essa dúvida, somada a comportamentos que considerava "hipócritas" em muitos cristãos, levaram-me a buscar, conhecer e até a me aprofundar em algumas religiões não-cristãs.Mas a quem estuda o cristianismo seriamente, com humildade e caridade interpretativa, é inevitável chegar à conclusão de que ele e, em particular, o catolicismo, não estão em uma relação de oposição ao paganismo, sejam as religiões antigas ou as que ainda hoje são professadas; é, ao contrário, um produto — e, em muitos casos, um refinamento! — de tradições de mais de 2000 anos.
Em vez de simplesmente destruir todos os pagãos e suas tradições, a Igreja ressignificou muitas tradições, não no sentido de que ela tenha reconhecido como verdadeiros os rituais ou o culto a outras divindades, mas de que ela tentou separar o joio do trigo. Tomou para si, purificou e ordenou à verdade os elementos culturais do paganismo, quando compatíveis com a fé cristã.
É por isso que a Igreja Católica afirma, p. ex., que as outras religiões muitas vezes carregam em si algo de verdadeiro; é quase como se fossem fragmentos da verdade ou tentativas mais rudimentares de alcançarem a verdade teológica. E isso é completamente lógico, porque nenhuma religião ou cultura pagã é a simples negação do cristianismo, há convergências e divergências.