Vamos por partes. O golpe de 1889 não pode ser analisado à luz de 64,

exceto no conceito generalista correto de que golpes contra instituições democráticas atrasam a vida do país por anos - e no caso de 1889 levou à guerra civil mais tarde, mas essa é outra história. Em 64 havia um país dividido, e um clamor de pelo menos metade da população - incluída a classe média e a maioria dos financistas - por uma intervenção. Também havia sido desenvolvida uma ideologia própria do Exército, cujo alto oficialato, parte dele na verdade, acreditava sincera e patrioticamente que eles podiam desenvolver o país.

Em 1889 não houve quase nenhuma influência da opinião pública. Na verdade, a situação parecia consolidada. O movimento republicano, começado grosso modo em 1870, nunca teve força pra ameaçar a predominância política da elite monárquica. Se eles se tornassem maioria no Parlamento, poderiam mudar o regime dentro da lei se quisessem, mas em 20 anos de campanha o Partido só conseguiu eleger dois Deputados Federais.

O povo era indiferente, e até gostava do Imperador e da Princesa, embora o Conde D'Eu fosse odiado. Talvez houvesse algum princípio ideológico em Benjamim Constant, mas ele era apenas um professor da Praia Vermelha, e no máximo deixava os cadetes com tendências radicais. O alto oficialato ainda era de veteranos do Paraguai, e praticamente todos monarquistas.

O cerne do problema era político. A elite econômica que sustentou 60 anos de Império era, essencialmente, açucareira do nordeste. Mas na década de 1880, a riqueza do país estava nos cafeicultores do sudeste, principalmente SP. Como o Império era ultracentralizador, era uma situação irreversível com acordos, e insustentável em qualquer sociedade. Além disso a rivalidade entre a classe militar e classe civil - os "casacas" - estava no auge. E o Terceiro Reinado era visto com desconfiança por todos, porque ninguém acreditava que Isabel fosse governar, e sim o marido.