Nasci para liderar, acho. Desde pequena, eu só brincava se pudesse ser a líder. Se
pudesse ter o controle. Quando brincava de escolinha, era sempre a professora. Se alguma amiguinha quisesse desempenhar esse papel, eu pegava minha lousa e ia brincar sozinha. Nos grupos de trabalho, tanto da escola, quanto da faculdade, era sempre para mim que meus colegas olhavam quando emitiam qualquer opinião. Como se estivessem buscando aprovação. No início, não gostava. Achava que estavam tentando folgar para o meu lado. Com o tempo, passei a entender que não. Só queriam ouvir o que eu tinha a dizer mesmo. Quando acontece alguma viagem em família ou entre amigos, eu fico responsável por tudo. Desde escolher a hospedagem até determinar quem ocupará qual quarto. Minhas colegas de trabalho também me consideram como uma espécie de porta-voz. Basta que surja a necessidade de que façamos uma demanda coletiva para que recorram a mim. E, para completar, vivo ouvindo de camaradas de partido que eu deveria me candidatar a algum cargo político, ainda que eu não tenha a menor vontade. É um pouco cansativo, às vezes, para dizer a verdade. Mas tem sido assim há 27 (quase 28, já que o aniversário está chegando) anos.