Sim, várias agressões físicas e psicológicas.
Meu pai bebia muito e isto fazia dele um monstro.
Ele

mostrava revólver dentro de casa, ameaça a mim, minhas irmãs e a mamãe. Batia na mamãe. Xingava-a de todos os horrores possíveis.
Agredia minha irmã, uma vez chegou enforcar minha irmã mais velha e socá-la por um bom tempo. Achei que ia matá-la.
Nos obrigava a ir de carro nos lugares com ele, bêbado, e acelerava em uma velocidade assustadora.
Quase matou minha irmã caçula no ventre da mamãe ao jogar o carro em um rio, quando bêbado.
Me fez ter horror à sextas-feiras. Todos os meus amiguinhos amavam este dia da semana, e eu odiava, pois era o dia em que ele bebia com toda certeza, e que eu ia dormir orando muito pra que nada de ruim acontecesse.
Minha irmã caçula tentou suicídio por causa do meu pai.
Eu nunca tive um Natal feliz na infância nem na adolescência. Natal sempre foi sinônimo de tragédia na minha família.
Eu cresci em dúvida com relação ao que sentia pelo meu pai. Algo em mim o amava, algo em mim o odiava.
Minha irmã mais velha precisou tomar remédio controlado pra conter a raiva que sentia dele.
Eu não podia chorar, por mais que doesse, porque se eu o fizesse minha mãe ia ficar arrasada e tudo que ela aguentava era por nossa causa, então eu não podia cogitar deixá-la mais mal do que ela já estava. Eu via minha família sofrer e eu queria sofrer junto, mas eu não podia. Eu tinha que ser forte, que fingir que era forte.
Eu só sorria p/ o meu pai todas as manhãs como se nada tivesse acontecido.
Eu só abraçava a minha mãe com força, porque ela sempre foi uma heroína. Ela podia aguentar tudo, desde que estivéssemos bem, e meu pai, por mais monstro que fosse, nunca nos deixou faltar nada.

Hoje eu não guardo mágoa alguma de ninguém. Não tenho qualquer raiva. As coisas melhoraram, graças a Deus.
Mas para dizer tudo isso sem ressentimento algum, foram precisos baldes de lágrimas derramados ao longo do tempo.