"À excelentíssima Vossa Majestade Real:

Venho informar a Vossa Alteza que, ontem, ao horizonte, minha frota

e eu avistamos uma porção de longínquas e promissoras terras. Devido à morfologia de dois morros litorâneos, dos quais um se assemelhava a uma silhueta feminina, enquanto a outra nos remeteu a um gigante adormecido, demos previamente o nome a tais virgens terras de 'Elaele'.

Todavia, ancorando a nau já nas saudosas praias cristalinas de água surpreendentemente aquecida, avistamos um agrupamento de humanos dos tipos mais distintos nestes continentes. Alguns indivíduos do sexo masculino pareciam não se aproximar tampouco se relacionar das mulheres; alguns expressavam um semblante de nojo. Alguns, a qualquer tipo de pergunta feita a eles, a respeito de suas terras, de sua cultura e de tudo que é associado ao local, responderam a todas com impropérios do tipo 'foda-se', 'morrer', ou 'ninguém liga'. Ficamos chocados com sua recepção. Alguns, na tentativa de impressionar a tripulação, forasteira nestes desconhecidos horizontes, exibiam ferozmente seus músculos em posições de halterofilismo, mas pareciam não ter a capacidade de esboçar nenhuma palavra sequer.

Outros indivíduos - de ambos os sexos - chocavam-nos com questionamentos morais e filosóficos do tipo "traí meu parceiro(a) com seu irmão, tem algo de errado?' ou 'espanquei meu cachorro, tudo bem?'. Alguns, para não revelarem suas identidades, estavam trajados com máscaras, o que os tornavam literalmente anônimos, e nos diziam coisas ácidas e perturbadoras. Mas havia outro estrato que, mascarado ou não, ajudavam como podiam a tribo, eram solidários, boas companhias e prestavam todo o suporte que precisávamos. Havia até alguns escritores e poetas, o que nos causou júbilo.

Na tentativa de zarpar, porém, a caravela naufragou e aqui ficamos presos. É um caminho sem volta, Alteza! Continuarei lhe enviando cartas e conhecerei mais sobre este peculiar povo e sua cultura.

Atenciosamente,

John Savage"