Talvez porque o mundo tenha mudado. 200 anos atrás não existia nem ao menos o

conceito de adolescência. Fez 13 anos? Adulto.

Isso se chama adolescência tardia. É resultado de fatores culturais (a dinâmica social, do mercado) e biológicos (estamos vivendo mais, logo nossas fases da vida também duram mais).

Hoje em dia apenas o ensino médio não garante um bom emprego. Muitos jovens, principalmente classe média que podem ser sustentados pelos pais, vão em busca da formação, graduação, pós, concurso pra depois entrarem no mercado de trabalho.

É fácil atrair o jovem nostálgico para filme de herói, videogame e brincar de dançar no tik-tok. É escapismo do dia-a-dia de merda. E sem experiências reais (trocando se reunir com amigos por amizades virtuais, ficar na bronha e babando em mulheres no instagram ao invés de trabalhar um relacionamento sério), dificilmente vai chegar à fase adulta com a mentalidade diferente.

Mas essa dinâmica também afeta os pais. Com rotina puxada, dificilmente terão tempo e energia para fazerem coisas com os filhos, conversar, ter uma relação plenamente saudável. Muitos pais compensam a ausência com liberdade, brinquedos, celular. Diarista ao invés de botar a criançada pra fazer a faxina.

É difícil tratar o filho como adulto se o enxergar como adolescente. Cito minha própria família. Eu saí de casa assim que entrei na faculdade. Minha irmã ficou até passar no concurso que queria, isso já depois de pós-graduada, perto dos 30 foi arrumar o primeiro emprego. Enquanto comigo a relação sempre foi madura e tranquila, com ela havia os surtos adolescentes de quebrar coisas, gritaria e ameaçar largar tudo e fugir. E ela é mais velha que eu.