Você sabia que muito provavelmente Nietzsche não era ateu?

Muitos costumam usar esse filósofo como símbolo do ateísmo e que não acreditava em Deus, mas há controvérsias.

1) No livro "A Filosofia na era trágica dos gregos", Nietzsche diz que acredita no Noûs (νοῦς) cósmico. O que é 'Noûs cósmico"? É, segundo Anaxágoras de Clazômenas, o princípio cosmológico inteligente, eterno e ilimitado, capaz de ordenar os elementos materiais que compõem o universo.

2) No 'Romance filosófico' "Assim Falou Zaratustra", o protagonista afirma que "Deus está morto". Sendo assim, tudo que morre só morre porque viveu durante determinado tempo. Daí é possível depreender duas coisas: 1) se o pensamento de Zaratustra for o mesmo de Nietzsche, Nietzsche não era ateu; se o pensamento de Nietzsche não é igual ao de Zaratustra, nada poderemos concluir.

3) Até onde me lembro, no livro "O Anticristo" Nietzsche não nega nem afirma a existência de Deus. O filósofo apenas diz que "o cristianismo não é benéfico" (ele se baseia no equívoco de que a misericórdia é prejudicial). Já em "Para além do bem e do mal", o pensador germânico declara que "o cristianismo é um platonismo para ignorantes". Ainda que Nietzsche estivesse certo, Platão defende, mais precisamente no "Timeu", a existência de um "Criador e mantenedor do Universo".

4) Sua famosa frase "Deus está Morto" não se trata do Deus vivo imortal, mas sim de que o "Deus" foi morto pelos seus próprios fiéis com o avanço do racionalismo, liberalismo, progressismo e secularização. Sendo assim a humanidade não dependeria de "Deus" para algo.

5) Existe um texto bem conhecido vinculado a Nietzsche chamado "Oração ao Deus desconhecido", praticamente uma busca por algo maior.
13/01/2024 12h14

Na verdade, muitos não costumam ler Nietzsche. E confundem crítica à religião com critica à

fé. O debate nunca foi a existência ou não. E sim a limitação da ética, do pensamento e principalmente do mau uso (pagar de coitadinho, pagar de cidadão de bem). O bigode detestava a definição de bom homem ser apenas obedecer as regras e se comportar de acordo com os costumes de um local e época. Um bom hindu é quem reza pro deus-elefante, um bom cristão é quem acredita em deus, um bom alguém é quem adora tal divindade e segue os costumes de tal fé.

Quando ele diz que deus está morto, não é algo raso como dizer que deus não existe, é bem mais profundo que isso. Basicamente a figura de deus deixou de ser o norte da existência humana e o centro das atenções.

Em Gaia ciência no livro III ele dá o papo:

Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da decomposição divina? – também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E fomos nós que o matamos! Como havemos de nos consolar, nós, assassinos entre assassinos.[...] A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele?”

Homem matou deus e tomou seu lugar. No sentido de que agora nós decidimos o destino do mundo. Mas ao invés de idealismos e liberdade o homem só viu caos e o abismo. Pois não é divino. O niilismo de Nietzsche não é um desejo de ateísmo, é um alerta para o quão vazia é a vida do homem mediano sem um norte existencial, uma fundação sólida e robusta. Por isso muitos procuram uma muleta para suprir essa necessidade de adoração. Razão, valores, leis, humanismo.

É necessária a Vontade De Potência, superar esses medos, encontrar valor na própria existência em si. Ao invés de se deixar dominar pelo mundo, encará-lo disposto a dominá-lo.

"Vontade – eis o nome do libertador e mensageiro da alegria: assim vos ensinei eu, meus amigos”
-Assim falou Zaratustra.