Peço licença pra cometer um pouco de autoajuda. Tenho conhecido muita gente desolada. Esse governo é um gatilho poderoso pra depressão. As queimadas, o apocalipse iminente, a recessão inevitável, o desemprego crescente, a vergonha mundial. O presidente parece eleito pela indústria farmacêutica pra vender antidepressivo
Mesmo que você não queira se informar sobre queimadas, elas batem à sua porta —até fumaça faz delivery em SP. A cidade da noite clara conheceu a tarde escura, numa metáfora óbvia demais do que virou o país. O meio ambiente podia trabalhar com uma imagem mais sutil —mas talvez adivinhe que esse governo não entende sutileza. Só conheço uma maneira de não ficar triste: é ficar puto. O único momento em que eu não tô deprimido com esse governo é quando eu to com ódio desse governo. Não existe saída, infelizmente, pela alegria nem pelo afeto: ninguém nunca tirou um presidente com ciranda. A ditadura no Brasil terminou com aquela impressão de ‘todo o mundo errou, bola pra frente’. Bola pra frente é o caralho. Figueiredo tinha que ter sido largado no mato pelado em seu cavalo —como o prefeito de ‘Bacurau’. Preferimos a conciliação. Os torturadores gozaram de liberdade e aposentadoria farta, e suas filhas solteiras também. ‘Todo o mundo errou’. Quem nunca torturou uma mulher grávida? Quem nunca torturou uma mãe na frente dos filhos? Bola pra frente.
Mas não é hora de lamentar. É hora de se perguntar. Hoje: Quanto da sua tristeza você conseguiu converter em ódio? Quanto do seu ódio você conseguiu converter em ação? O que você fez pra atrasar, nem que seja um pouquinho, o apocalipse?