anônimo
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13/10/2019 08h24
"Sei lá se isso era tóxico. Mas enfim... minha mãe biológica tentou me abortar de todo jeito, não conseguiu, me deu pra adoção. A família que me adotou era colona (nota da redatora: "colono" é a denominação dada às pessoas de área rural no sul do País), tinham seus quatro filhos biológicos.
Cresci ouvindo minha mãe adotiva dizer que eu seria igual minha mãe biológica. Que seria um nada. Uma coitada. Tudo isso porque eu questionava o porque dela não me dar carinho como ela dava pros outros, legítimos dela. Me envergonhava na frente dos outros, dizia que eu era suja. Quando alguém questionava ela sobre quantos filhos tinha, ela dizia "tenho quatro, e essa peguei pra criar, porque tava comendo até pedra na rua".
Apanhava igual um cachorro. Desde os 8 trabalhava na roça, sem nunca ouvir uma palavra de elogio, uma gratificação. Com 15 anos saí de casa, pensei que pior do que estava não poderia ficar. Eu ficava doente, ia pro hospital sozinha. Voltava sozinha. Passei fome, porque pagava aluguel e meu salário era baixo. Não tinha experiência em quase nada por ser da roça.
Com 17 anos comecei a costurar, é a minha paixão até hoje. Nunca me procuravam pra saber como eu estava. Só depois que me casei demonstraram interesse em mim, talvez pelo fato de perceberem que eu não ia acabar como minha mãe biológica.
Hoje em dia raramente nos vemos. Meu pai era um homem bom, nunca me bateu, mas também não me defendia. Mas eu o amo muito, porque a ideia de me adotar partiu dele. E tenho muita gratidão por isso, porque se não fosse ele, hoje eu não estaria nem viva. Mas é isso. Foi bom desabafar. Desculpem o textão".