anônimo
1.79K
09/07/2020 20h34
Além disso, enquanto distintivo do sexo no meio do rosto, ela é obscena: por isso é apreciada pelas mulheres.
Dizem que a barba é natural ao homem: não há dúvida, e por isso ela é perfeitamente adequada ao homem no estado natural; do mesmo modo, porém, no estado civilizado é natural ao homem fazer a barba, uma vez que assim ele demonstra que a brutal violência animalesca - cujo emblema, percebido imediatamente por todos, é aquela excrescência de pelos, característica do sexo masculino - teve de ceder à lei, à ordem e à civilização.
A barba aumenta a parte animalesca do rosto e ressalta-a. Por essa razão, confere-lhe um aspecto brutal tão evidente. Basta observar um homem barbudo de perfil enquanto ele come! Este pretende que a barba seja um ornamento. No entanto, há duzentos anos era comum ver esse ornamento apenas em judeus, cossacos, capuchinhos, prisioneiros e ladrões. A ferocidade e a atrocidade que a barba confere à fisionomia dependem do facto de que uma massa respectivamente sem vida ocupa metade do rosto, e justamente aquela que expressa a moral. Além disso, todo o tipo de pelo é animalesco.
Olhai ao vosso redor! O sintoma externo da brutalidade pode até mesmo ser reconhecido como o elemento que constantemente a acompanha - a barba longa, esse distintivo sexual no meio do rosto, dizendo-se que à humanidade se prefere a masculinidade. Esta coloca-nos em pé de igualdade com os animais, uma vez que leva o indivíduo a querer ser antes de tudo um macho, mas, e somente depois, um homem. Em todas as épocas e em todos os países civilizados, o costume de se barbear derivou da noção correta do contrário, motivo pelo qual se pretendia sobretudo ser um homem, de certo modo um homem in abstracto, sem levar em conta a diferença animalesca do sexo. Em contrapartida, o comprimento da barba sempre acompanhou pari passu a barbárie, assemelhando-se a esta inclusive no nome.
Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Insultar'