Eu diria que tanto misoginia quanto misandria socioculturais estruturais não existem, já que cobranças em cima de ambos os sexos são produtos de uma ordem de divisão de papéis que sofreu uma derrocada desde o advento do feminismo e da revolução sexual da década de 60. Muita gente tem, não sei, alguma amnésia histórica seletiva pra esse tipo de coisa, e nega que o homem também sofreu no long-run. Mas é flagrante que era algo que impunha pesos pra ambos os lados, mas as lesões eram tão diversas em natureza pros dois, que funcionava, de forma que uma privação não fazia peso demais pro outro. O grande problema de hoje é que sofremos um efeito de transição, em que dentro de alguns aspectos ainda carregamos uma mentalidade de divisão de papéis, enquanto os anseios por equalidade emergem conscientemente, o que são duas coisas incompatíveis. Se deseja o cavalheirismo, mas também o tratamento igual. Se deseja direitos iguais, mas não se exigem responsabilidades iguais. Homens e mulheres são declarados iguais perante a lei, mas ainda assim o rigor judicial só é aplicado a um. Essas coisas acontecem bastante debaixo dos nossos narizes, mas a galera tá nem aí pra isso. No fim, há uma pressão desnecessária pro homem sim, assim como ainda existe pra mulher, mas não é por um ódio internalizado. Quer dizer, às vezes é, e é pregado abertamente, mas nesse tipo de coisa é melhor nem prestar atenção.