anônima
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03/01/2022 12h17
A minha primeira namorada era feia, feia mesmo. Daquelas que tu olha e não sabe se tá de frente ou de costas.
Namoramos um bom tempo, demorou acostumar, no começo sempre me assustava ao acordar e vê-la ao meu lado, o coração acelerava, me recuperava do susto e logo dava aquele beijo de bom dia.
Com o tempo a sua feiura tornara-se mero detalhe; o carinho, o cuidado e sem dúvida alguma a fidelidade me conquistaram. Não tinha problemas na rua: onde eu ia ninguém mexia com ela, e as únicas palavras que eu ouvia eram; “cruz credo, misericórdia, cobra quanto para assustar cinco cômodos?”.
Eu não me importava, a essa altura já amava a feinha. Até que os meus amigos começaram a comentar! Que eu era bonito, merecia alguém melhor, que haviam outras mulheres bonitas, que eu estava fazendo besteira, se já era feia agora, imagine depois...
Eu dei ouvidos. Terminei com a feia, ela chorou muito, ficando ainda mais feia, pediu que eu ficasse, que faria plástica, academia, nascia de novo, mas que eu não partisse.
Eu parti, deixei a feia e na primeira semana já fiquei com uma modelo de lingeries, belo corpo, olhos castanhos e quando acordei quase que me belisquei, parecia um sonho.
Ela acordou e meu coração não acelerou e eu continuei; morenas, ruivas, negras, louras, asiáticas..., mas mesmo assim algo parecia faltar. Talvez o bendito do susto da feia, isso sim acelerava meu coração! Ontem vi a feia, me bateu uma saudade, as pernas tremeram, suei! Meu coração disparou novamente, do susto! Ou do reencontro.
Percebi o quanto ela era especial e caso o leitor se pergunte se ela estava bonita, se havia mudado, colocado silicone...
Não! Continuava a mesma feia, ainda pior pelo tempo. Mas o meu coração acelerou, e então percebi que não era susto, sempre foi amor.
E feio mesmo é achar que alguém é só a sua aparência. Pois a coisa mais feia do mundo é perder quem se ama.