Apesar do meu condomínio ser bagunçado, eu gosto de onde eu moro, tem tudo, absolutamente tudo por perto. Shopping, supermercado, banco, ônibus pra todo lado. De uns tempos pra cá, desde o início da pandemia, abriram-se as portas do inferno. É incrível, quando não é um vizinho, é outro, virou um verdadeiro revezamento de barulho, está pior que favela. Síndico não resolve, polícia não prende bem bandido e assassino, quem dirá vizinho barulhento. Amanhece o dia, já me bate aquela ansiedade. Os vizinhos que moram embaixo de mim acordam cedo e só faltam arrancar a janela. Entra no banheiro, bate a porta, sai do banheiro, bate a porta de novo. Quando eles saem de casa, o maloqueiro que mora de frente pra mim acorda, começa a bocejar bem alto, espirra de um jeito bem escandaloso e é palavrão atrás de palavrão e gruta com o filho dele, não dá um minuto já está gargalhando. Isso é quando a cachaceira do térreo não está trabalhando em casa. Deus e o mundo tem que saber o que ela faz. Esses dias tá bom, desde a semana passada ela voltou a trabalhar fora, vou torcer pra que continue assim.
O problema é que não tenho condições de me mudar. Eu me preocupo tanto com minha saúde mental, espero que eu não tenha um surto e não resolva cometer uma loucura. Gosto de sossego e é justamente o que eu não tenho mais aqui. Eu saio de casa, fico bem relaxado, chego em casa, mal posso ouvir a voz desse povo, que já me dá nos nervos. Tem horas que fico até tremendo.