Um que me intrigou de forma negativa é o questionamento da realidade e da consciência que se iniciou com o solipsismo. A tradição deu lugar a outros segmentos de ceticismo radical; o de Marx, que postula que toda ideia humana é de ordem social, e não há essa de pensamento autônomo. O de Nietzsche, que o homem é produto de construções históricas. O de Freud, que o homem é só canalizador de seus impulsos psíquicos.
A soma desses ceticismos somados, forma uma epistemologia que nega a autonomia do pensamento e da ação do homem; sua consciência é determinada por fatores fora do controle, e ele tem pouco senão nenhum poder sobre isso. Sendo como Déscartes postula, toda ideia inicial em que se fundamentam os pensamentos algo da própria mente humana (ideias inatas), logo, é deduzido na tradição filosófica que se segue, que o juízo humano das coisas é irracional e ele não pode chegar à verdade. Não é uma conclusão descartiana, uma vez que Déscartés se ocupou de querer produzir um conhecimento que se aproximasse bastante da verdade. Mas a tradição filosófica pós-racionalista é negativa (no sentido de ser uma reação de oposição, negando as filosofias anteriores, não algo valorativamente ruim)
Eu acho o grande problema dessa questão filosófica a incoerência de perceber a irrealidade e agir mesmo assim. Se nada é uma certeza, então por que o cara que pensa isso não se mata? É mais proveitoso. Se ele come, não tem a certeza de realmente estar comendo. Se ele vive, não tem certeza de estar vivendo. Então tudo é uma mentira custosa.
Mais, se o homem é sempre produto, então como surge a mudança? Sem agente caótico, a ordem das coisas nunca muda. Se há variação no mundo e no homem, isso deve partir de alguma anomalia que os princípios naturais da consciência não foram capazes de conter.