Eu vou mais longe do que isso. A nossa consciência não tem toda essa liberdade. Somos domados pelos nossos genes.
Por exemplo, por que as mães amam os seus filhos? Por que, racionalmente, uma mãe deveria amar ou cuidar de seus filhos? Pelo contrário, poderíamos dissuadi-la a fazer o contrário:
Seu corpo ficou deformado durante a gestação. Você provavelmente teve náuseas durante a gravidez. As dores do parto são terríveis e, depois de nascido, seu filho vai apenas comer, lhe presentear com resíduos metabólicos e entoar choros incrivelmente irritantes — um trabalho enorme, e muito estressante. Enquanto estiver crescendo, você terá de sustentá-lo e educá-lo, no mínimo, até o final de sua juventude. E, depois disso tudo, ele simplesmente dirá: “tchau, agora quero ser independente, passe bem!” Você nunca será recompensada pelo enorme esforço que foi criá-lo — e tudo isso para quê? Para nada, absolutamente!
As mães amam os seus filhos simplesmente porque as que não amaram, os filhos simplesmente morreram e isso não é interessante para o nosso DNA.
Da mesma forma o prazer e o sofrimento existem apenas para esse intuito. São as programações mais fundamentais de nossa existência biológica, e funcionam como ferramentas eficientíssimas para nos coagir às ações que são úteis à nossa preservação. É claro que ninguém saberia explicar por que sentir prazer é bom ou por que sentir dor é ruim. Isso acontece porque eles não existem como fins em si mesmos, ou seja, não existem para serem bons ou maus ou passíveis de uma descrição clara — existem apenas porque são eficientes em nos coagir a comportamentos que proporcionam a perpetuação de nosso DNA.
Vou terminar com uma citação interessante do Richard Dawkins sobre essa questão:
[N]ão os procure [os genes] flutuando livremente no mar. Eles abandonaram essa liberdade há muito tempo. Agora eles apinham-se em colônias imensas, vivendo com segurança dentro de robôs desajeitados gigantescos