Se pudesse me impedir de pensar! Tento, consigo: parece-me que minha cabeça se enche de fumaça... e eis que tudo recomeça: "Fumaça... Não pensar... Não quero pensar... Penso que não quero pensar... Não devo pensar que não quero pensar. Porque isso também é um pensamento." Será que não termina nunca?
Meu pensamento sou eu: eis por que não posso parar. Existo porque penso... e não posso me impedir de pensar. Nesse exato momento - é terrível - se existo é porque tenho horror a existir. Sou eu, sou que me extraio do nada a que aspiro: o ódio, a repugnância de existir são outras maneiras de me fazer existir, de me embrenhar na existência. Os pensamentos nascem por trás de mim como uma vertigem, sinto-os nascer atrás de minha cabeça... se cedo, virão para a frente, aqui entre meus olhos - e sempre cedo, o pensamento cresce, cresce e fica imenso, me enchendo por inteiro e renovando a minha existência (...)
Mano Sartre.