Homem dos anos 80 X Homem atual
Por: Marcos Elias
Em 1982, eu tinha onze e meu pai, hoje falecido, contava com seus 43. Saia
para o trabalho às 6h30, e portanto, muitas vezes, não o via pelas manhãs.
Vestia-se com terno e gravata, barbeava-se com um equipamento de “três
peças” e esfregava as mãos às faces encharcadas de Monsieur Rochas. Usava
um Dodge Magnum 1979 cinza para locomover-se: V8, de 318 polegadas
cúbicas. Ria pouco. No punho esquerdo, um Omega Speedmaster. No punho
direito, uma pulseira de ouro que algemaria o Fernandinho Beira-Mar até a
próxima passagem do Cometa Harley. Trabalhava na “cidade”, como me dizia.
Hoje, conhecida como centro. Seu Grundig exalava Charles Aznavour ou Édith
Piaf. Em inglês, Elton John.
Fumava sempre, e batia suas cinzas nos cinzeiros dos carros (antes que fossem
extintos), e se fosse necessário, na saboneteira do box do banheiro. Seus
preferidos eram os Gitanes. Era respeitado pela esposa. Sempre concentrado,
focado nos negócios: quanto mais ganhasse, melhor. Suas férias eram os finais
de semanas de verão em que passava com a família na Praia das Pitangueiras.
Nestes momentos, acordava invariavelmente cedo, seduzia o barraqueiro
orestes com uma nota bege e vermelha de 10 cruzeiros, adquiria o Estadão (a
Folha, nessa época, era jornal de viado), metia-se num “calção de banho” e
dava-se ao luxo de um descanso de duas horas na praia. Almoçava no
Monduba, e sonecava às tardes.
Não me lembro do rosto do Wilson sem óculos Rayban. E nunca o vi de
pijamas. Provavelmente era mulherengo, mas tanto quanto alguém hoje
dissesse que gosta de amendoins: sem metafísica.
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