Já se perguntou por que a humanidade impõe preferências de forma e tamanho a algo cuja essência primordial reside na nutrição da prole? Enquanto as fêmeas de outras espécies exibem suas tetas sem tabu ou artifício, livres na natureza, o corpo humano tornou-se um campo de significações, onde até o que é biológico se submete à cultura e ao desejo. O prestígio e castigo da consciência humana.
Sua indagação, simplória à primeira vista, sugere um ponto essencial. Embora a erotização dos seios não tenha se originado em Hollywood — não está isento de amplificar esse conceito. No Antigo Egito e na Grécia, os seios evocavam fertilidade e sensualidade, mas sem a censura e a fetichização moderna. Na Idade Média, a moral cristã impôs um véu de recato sobre o corpo feminino, que, no Renascimento, voltou a ser celebrado na arte, em figuras de formas voluptuosas.
Herdando vestígios dessas concepções, o século XX consolidou a erotização dos seios como um fenômeno de massa. O cinema, a publicidade com lingeries vermelhas rendadas em vitrines adornadas por imagens de mulheres seminuas, as revistas como Playboy e a pornografia, com suas cirurgias e padrões irreais, transformaram os seios em mercadoria — um símbolo de desejo moldado pelo consumo.
Hipocrisias contemporâneas são aquelas que, condenando os dogmas do passado, reproduzem novos: envergonham-se, excitam-se, enojam-se ou afastam-se diante do ato mais primário da natureza — uma mãe nutrindo seu filho. Portanto, me é indiferente.