Vou dizer qual é o teu problema. Tu ainda quer o mesmo que queria com 18 anos. Tu é uma mulher romântica, ainda deseja o homem certo, o homem perfeito, o homem que esteja a tua altura, o homem com quem tu vai casar na Igreja, de véu e grinalda, e viver feliz para sempre como os teus pais vivem.
Hoje, na tua idade, tu se sente traída pela vida. Tu tem certeza que fez tudo corretamente, deu todos os passos certos, foi sincera onde os outros são desonestos, foi resiliente onde os outros costumam fraquejar, e não conseguiu o que queria. E isso te enche de irritação. Te deixa frustrada. Uma parte de ti grita, eu queria voltar no tempo e fazer tudo diferente. Mas teu coração sincero diz, não, eu fiz o certo, a vida é que me enganou.
Já vi esse filme, e vi de perto. O problema maior que tu enfrenta hoje é que quando temos 20 e poucos anos é uma barbada confiar cegamente no futuro. Mas depois que completamos 30, somos fortes demais, maduros demais, seguros demais e autossuficientes demais. Os velhos truques, os velhos papos, os velhos jogos já não proporcionam nenhum prazer, é tudo tão repetitivo e banal. Não conhecemos mais pessoas novas, parecem apenas modelos replicados dos mesmos vícios e manias das pessoas que já conhecemos da cabeça aos pés.
Vejo tu aí, uma mulher adulta, madura, inteligente, com formação, com nível, que não é vulgar, não é vitimista. Tudo isso é verdade. E então onde está o problema? Onde? Em tudo o que eu disse. Tu chegou ao ponto em que se fechou dentro de uma redoma impenetrável, alimenta o sonho inconsciente da idealização que tinha no passado sobre como é o amor e como são os relacionamentos, e fica presa nesse círculo vicioso.
Não tenho intimidade contigo, nem quis ter. Mas eu pensei muito nessa situação toda de ontem pra hoje, e eu precisava falar. Não dou dica nenhuma, conselho algum. Não tenho a menor ideia de como tu vai derrubar isso. Mas acho que cumpri meu papel aqui falando o que eu enxerguei.
Boa sorte, moça