Costumo dormir às 11h É quase um ritual, uma tentativa de impor alguma ordem mínima ao caos, sabe? Só que hoje o cérebro resolveu acelerar. Uma enxurrada de pensamentos, ideias que não pedem licença, só invadem. É engraçado como o corpo pode cansar até o limite e, paradoxalmente, deixar a mente em estado de alerta, como se o esforço físico abrisse alguma fenda química onde o pensamento escapa descontrolado.
E aí começa a loucura: fico pensando em tudo e em nada. A singularidade absurda da vida, por exemplo, essa coisa quase ridícula de existir. A gente é um piscar microscópico dentro da cronologia do universo, um erro de arredondamento cósmico, mas mesmo assim insiste em se achar protagonista de alguma narrativa grandiosa. E o mais irônico é que isso não é vaidade pura, é biologia. Um truque de sobrevivência. Nosso instinto nos convenceu de que somos importantes o bastante pra continuar respirando, comendo, fugindo do vazio.
É uma farsa, claro, mas uma necessária. Porque se a gente olhasse de verdade pro tamanho do abismo, pro silêncio indiferente do espaço, ninguém sairia da cama. Então o cérebro mente. E mente bem.