Quando uma mulher se torna uma mulher?
A mulher é feita, não há uma natureza feminina que antecede a experiência empírica. Ela é o contraponto do homem, um existe para ser o oposto complementar do outro. Um afirma o outro, um domina e o outro é súdito. Só há subjugação feminina porque foi inventado o seu antagônico supostamente superior, dotado de racionalidade, força, altamente capaz de comandar e reger as civilizações, tomar conta dos negócios etc.
Agora existe um corpo material, isso é inegável, mas é através desse corpo e do dismorfismo sexual que é escrito por sobre ele códigos de conduta, modos de existir e a reserva de um destino para ele, como por exemplo a maternidade e o matrimônio.
Reduzir a mulheridade ao útero é afirmar que quem não o possui não merece o estatuto de mulher, e isso pode ocorrer de diversos modos, como o estabelecimento de uma doença mortal e a necessidade urgente de expeli-lo do corpo etc.
Reduzir a mulheridade aos cromossomos XX é afirmar que pessoas intersexos não merecem o estatuto de mulher, bem como aquelas que, embora sejam fêmeas, a saber, possuir todos os atributos legíveis de mulher, em decorrência de uma "falha" no SRY ter os cromossomos XY.
(Existem machos XX e fêmeas XY, embora sejam pouquíssimos casos reportados).
Reduzir a mulheridade a vagina é afirmar que mulheres trans nunca poderão ser mulheres e que os homens trans o são permanentemente.
Reduzir a mulheridade a regras de conduta heterossexuais e uso de uma feminilidade exacerbada e controladora é afirmar que pessoas desfeminilizadas ou não heterossexuais não o são mulheres ou que o são todavia em grau reduzido.