anônimo
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26/12/2023 20h16
Estava aborrecido dentro de casa e resolvi sair, ir à lanchonete. Geralmente vou sozinho mesmo, não é um tabu. Não é uma dificuldade social que preciso ultrapassar, superar. Cheguei, não olhei para as mesas ao redor, faz parte da técnica de evitar o estresse social combinado com uma apatia generalizada, aquelas pessoas não possuem a menor importância, embora tenham olhares vindos em minha direção, seja por causa da minha aparência excêntrica, seja pelo fato de estar sozinho em um ambiente tipicamente coletivo. É como um carneiro entrando no cercado dos bois, ele vai se destacar independente de dar um berro.
Sentei, pedi. Na minha frente havia um casal de jovens. Provavelmente nos seus 20 anos. Vestidos iguais, numa boa sintonia. Não consigo sentir o mínimo de empatia, mas apenas ressentimento, ódio, inveja. Todos os sentimentos ruins se chocam, como uma reação nuclear na qual a inveja libera partículas que despertam ódio, que por sua vez libera ressentimento. Explodindo uma bomba de amargura. Mas ela é silenciosa, ninguém a escuta externamente. O barulho fora é de conversa, pessoas trocando experiências. Aqui dentro é um grito desesperador pedindo, implorando ajuda.
Questiono exaustivamente qual pedra na cruz eu atirei para que Deus me castigasse com o celibato. A impossiblidade de amar, de ser amado. De compartilhar meu dia com alguém. Por que Deus me deu instintos, e me negou ao mesmo tempo? Tal tipo de tortura deveria cair sobre aqueles que são ruins, não é o meu caso. Minha maldade é fruto de observar a injustiça que ocorre comigo e com pessoas parecidas. Não é uma maldade que afeta outros seres humanos. Na visão da balconista, durante meus 20 minutos naquele lugar, era só um homem comendo seu lanche.