Estava no ponto de ônibus um dia quando um sujeito me abordou de forma brusca, precisando contar uma história que estava engasgada na garganta
Era o quê, segunda, ela saiu do trabalho às 17h de carro. ela nunca fazia besteira, mas naquele dia era aniversario da menorzinha, ela tava com pressa para buscar a menorzinha na escola, trazer para casa, para nois comemorar mesmo assim, uma coisinha pouca, um bolinho mesmo assim.
[Pausa para observar o ônibus que passou]
alguém ligou do celular dela, era um homem, pedia para eu não ficar tão nervoso, que ela não estava bem, foi, foi, na avenida... em qual avenida foi? ela sofreu um acidente de carro, alguém bateu nela em um cruzamento com alguma avenida e o carro capotou, ela não estava bem, o resgate precisava de algum parente para acompanhar no hospital e eu fui sem saber muito bem. a situação não foi bonita, estava bem feia a situação, estava fora do controle em um nível que é... difícil de lembrar
[Neste momento o sujeito olha para o lado, mas não diz nada, ele tentou esconder a contração no rosto]
desculpa, é que é difícil lembrar. ela não ficou bem, ela perdeu os movimentos da perna, do braço, ela não ficou bem. foram meses vendo minha companheira reduzida a nada, debilitada, precisando ser alimentada por coisas, aquelas coisas de hospital, ela, ela não estava bem. eu não sabia mais o que fazer, eu... quando ela foi para casa, eu não queria mais olhar para ela, estava sofrendo, com a autoestima destruída, ela não conseguia mais fazer as necessidades sem alguém ali. Eu não queria mais ver ela sofrer assim, ela me olhava com lágrimas no olho, nem falar podia mais... Hoje, mais cedo, hoje eu peguei o travesseiro da cama, eu peguei o travesseiro da cama e a sufoquei assim... Eu amava minha esposa.